Ana Carolina Cartágenes Pinto - Conselheira, gestão 2022/2023
Tão acostumados que estamos com a constância dos processos na radioterapia, que nós até esquecemos que todas essas etapas podem se atualizar de uma hora pra outra. O desenvolvimento tecnológico, mais do que nunca, está longe estagnar. Assim, hoje talvez eu esteja trazendo novidades: Os planejamentos de tratamentos radioterápicos autônomos já existem, e tem mais: a automação envolve diversas etapas, além do planejamento em si.
O processo de automação e a inteligência artificial tem chamado atenção nos últimos anos para as aplicações médicas. Em fevereiro de 2022 na Alemanha, Künzel e colaboradores publicaram a investigação do uso clínico e aceitação de um planejamento autônomo, não supervisionado, para radioterapia de próstata (KÜNZEL, et al., 2022). Além disso, há um ano atrás, esse processo de inteligência artificial também tinha sido proposto por Xia e colaboradores para o tratamento radioterápico de câncer em reto (XIA, et al., 2021). Eles fizeram um estudo retrospectivo com pacientes entre 2016 a 2018, e de 40 pacientes, 32 auto-planos não precisaram de qualquer modificação ou reotimização. O processo inteiro levou incríveis 7 minutos, e em comparação ao tempo que estamos acostumados, pode aumentar significativamente a eficiência do fluxo da radioterapia.
O estudo de Künzel envolveu o contorno automático de órgãos de risco, de alvos e a geração do plano de tratamento para próstata hipofracionada, sem qualquer interferência manual. O fluxo inteiro foi aceito para 6 de 10 pacientes e avaliado por 5 radio-oncologistas. Os casos foram idealizados para tratamentos adaptativos online de MRgRT (radioterapia guiada por ressonância).
Figura 1: Exemplos de três passos do planejamento para dois planos radioterápicos de próstata. Fonte: Künzel LA, Nachbar M, Hagmüller M, et al. Clinical evaluation of autonomous, unsupervised planning integrated in MR-guided radiotherapy for prostate cancer [published online ahead of print, 2022 Feb 5]. Radiother Oncol. 2022;168:229-233. doi:10.1016/j.radonc.2022.01.036
Quanto aos órgãos de risco, o contorno automático foi um sucesso na maioria dos casos. Porém, incertezas foram relatadas, principalmente em alças intestinais. Para o contorno do CTV/PTV, a concordância entre os médicos também foi baixa, pois as margens pareciam visualmente muito justas ao alvo. Com esses resultados, foi concluído que esses dois processos não podem ser utilizados sem aprovação humana em etapas entre o contorno e planejamento. Entretanto, para a adaptação on-line do plano (onde o contorno requer a modificação manual nas imagens diárias), a possibilidade de usá-lo já se mostrou possível em alguns casos.
Já para a aceitação dos planejamentos autônomos, o resultado segundo eles foi excelente. E mesmo estando sendo analisada para a MRgRT, essa abordagem pode ser facilmente ajustada para outros tratamentos adaptativos on-line, como a radioterapia guiada por tomografia, que ainda é majoritariamente utilizada no Brasil.
Sendo assim, uma análise mais elaborada é necessária para aumentar a certeza do contorno automático e a definição dos alvos, para que a otimização automática dos planos fique, de fato, mais rápida. O estudo completo se encontra na bibliografia logo abaixo, para que você conheça os detalhes desse estudo e tire suas próprias conclusões. Deixe sua opinião nas nossas redes!
- Künzel LA, Nachbar M, Hagmüller M, et al. Clinical evaluation of autonomous, unsupervised planning integrated in MR-guided radiotherapy for prostate cancer [published online ahead of print, 2022 Feb 5]. Radiother Oncol. 2022;168:229-233. doi:10.1016/j.radonc.2022.01.036
- Xia X, Wang J, Li Y, et al. An Artificial Intelligence-Based Full-Process Solution for Radiotherapy: A Proof of Concept Study on Rectal Cancer. Front Oncol. 2021;10:616721. Published 2021 Feb 3. doi:10.3389/fonc.2020.616721